quinta-feira, 7 de junho de 2007

Matemática e a Guerra

É muito frequente ouvirmos dizer que a Matemática é neutra.
Mas não é estranho que uma área do saber que decorre e se desenvolve ao longo dos séculos por pessoas, em ligação forte com problemas que emergem na vida real, embora reconhecidamente também com uma forte dimensão de abstracção, seja envolta numa imagem de neutralidade?

Esta questão surgia-me em diversos momentos e foi com bastante expectativa e curiosidade que fui, em Abril de 2002, para a sessão que marcou a abertura da Conferência Internacional MES3 (Mathematics, Education and Society).

Era uma sessão prévia à Conferência (denominada Ágora) para a qual tinha sido convidado um matemático - Bernhelm Booss-Bavnbek (professor da Universidade Roskilde na Dinamarca). O título da sua palestra era Mathematics, mathematics education and war e o texto da sua apresentação pode ler-se aqui. Claro que a discussão que decorreu dessa apresentação foi acalorada mas profundamente estimulante, aliás como é habitual na generalidade das sessões das Conferências MES (a próxima será em Portugal, em Fevereiro de 2008).

Nestas conferências os participantes não são espectadores mas sim intervenientes activos que se encontram de tempos a tempos para debater as relações entre a Matemática e a Sociedade mas com uma vertente muito reflexiva sobre os impactos e interacções destas relações na Educação.

Claro que não são sessões mornas, neutras... e por isso, no final, todos voltamos para os nossos locais quotidianos de vida muito mais estimulados e reforçados na convicção de que é no debate e na interrogação partilhada que crescemos e nos desenvolvemos para contribuirmos para um mundo melhor.

Mas como é que hoje vim falar de algo que aconteceu em 2002? De facto, não sei bem mas depois de umas horas de leitura ao sol e junto ao mar voltei com vontade de pensar e escrever sobre a Matemática. Agarrei no livro Agnesi to Zeno e ao folheá-lo lembrei-me da dita sessão.


Resolvi pesquisar na net com a entrada 'mathematics and war' e claro que a primeira entrada era precisamente para uma secção de um site do matemático da sessão de 2002.
Mas encontrei outras coisas igualmente interessantes, como, por exemplo, um blogue (de Alexandre Borovik, um outro matemático mas de Manchester) que vale a pena visitar com alguma regularidade.



Uma outra entrada levou-me ao encontro do livro "Rethinking Mathematics
Teaching Social Justice by the Numbers
" editado por Eric Gutstein e Bob Peterson onde encontramos 30 artigos que mostram (aos professores) como se podem interligar princípios de justiça social ao longo do currículo da matemática este com outras áreas curriculares.

E ainda uma outra entrada interessante é a que dá acesso à apresentação de um Colóquio sobre a História da Matemática em 2004 (promovido pelo Instituto de Tecnologia Federal Suíço de Zurique) em que a segunda parte era totamente dedicada ao tema 'Mathematics and War'

Então parece que, afinal, a Matemática (e o seu ensino) não é assim tão neutra!

domingo, 3 de junho de 2007

educadores matemáticos no mundo


matematica_mundo tagged map by user - Tagzania
Neste mapa vou assinalar (ao longo do tempo) os locais de onde vêm educadores matemáticos ou pessoas que, de alguma forma, têm relevância para o meu posicionamento relativo à educação matemática e para a reflexão, acção e investigação que tenho feito.
Em cada um dos locais existe um link para saber mais sobre essa pessoa.
Como vou actualizando o mapa, ele pode ter mais pontos assinalados de cada vez que aqui vier.

sábado, 2 de junho de 2007

Etnomatemática: Reflexões sobre Matemática e Diversidade cultural


Bolsas, cestos e outros adereços

Este é o título do artigo da Visão (31 Maio 2007, pg. 112) onde divulgam o trabalho de Paulus Gerdes, um matemático moçambicano que se tem dedicado nas 2 últimas décadas a investigar a 'matemática congelada das culturas africanas'. O ponto de partida deste seu trabalho tem sido a recolha de artesanato maioritariamente de Moçambique (mas também de Angola e outros países africanos). E o artigo surge a partir do lançamento deste livro em Portugal.
Este matemático (professor da Universidade moçambicana Eduardo Mondlane em Maputo) com a sua equipa introduziu (nos finais da década de 70) uma disciplina nova nessa Universidade que veio a dar um rumo muito particular ao seu percurso científico (ver artigo). Intitulava-se Aplicações matemáticas na vida diária das populações e levou professores e alunos a visitar fábricas de cerveja e camponeses. Os alunos compreendiam como a Matemática podia ser útil e Paulus Gerdes apercebeu-se que as pessoas, embora analfabetas, produziam raciocínios matemáticos nas suas práticas diárias.


Começou então a interrogar-se sobre se não 'haveria uma matemática escondida' não estandardizada própria de cada grupo cultural e sobre como é que ela poderia ser valorizada (ver algumas das suas publicações). Esta é uma ideia base da corrente que se denomina Etnomatemática e que se dedica ao estudo da matemática usada por qualquer grupo cultural na compreensão e resolução dos problemas com que se deparam no seu quotidiano (sejam grupos profissionais, etários, étnicos,...).


Segundo Paulus Gerdes a inclusão do estudo de padrões geométricos tradicionais no ensino da Matemática tem dado bons resultados. 'Alunos que dizem odiar a disciplina passam o dia a resolver problemas'